quarta-feira, 16 de junho de 2010


A













Photo: Ernesto Rodrigues with Guilherme Rodrigues and Phill Niblock


Orquestra de Geometria Variável é um projecto liderado por Ernesto Rodrigues, incansável dinamizador na cena da música improvisada nacional. A par com a coordenação da editora Creative Sources (a desenvolver um trabalho cada vez mais notório), mantém uma série de projectos em simultâneo. Há um par de semanas Ernesto estreou o Sexteto de Cordas (notável ensemble acústico onde se destaca a inclusão de uma harpa) e no sábado foi a vez de levar a Orquestra VGO à Zé dos Bois.
Estava inicialmente previsto que se juntassem dezanove músicos em palco, mas a ausência de alguns reduziu o número de elementos para dezasseis – nada de mal, uma vez que, como o nome indica, nesta orquestra a geometria é variável. O propósito anunciado deste grupo era, a partir de livre improvisação combinada acústica e electrónica, conseguir criar uma unidade de som e abrir espaços para o silêncio – “o som rompe do silêncio para nele voltar a mergulhar”, prometia o press-release. E assim aconteceu.
Conduzido pela viola de Ernesto Rodrigues, o grupo seguiu numa extensa viagem musical bem estruturada, numa alternância entre quietude e crescendos desenfreados. Manuel Mota, regressado à guitarra eléctrica depois da experiência acústica no Sexteto de Cordas, foi a segunda voz, sem exageros mas com uma presença forte, envolvente na construção de texturas. Logo depois evidenciou-se a importância da percussão: José Oliveira na bateria (kit personalizadíssimo) e César Burago em simples cowbell (melhor instrumento de sempre, como dizem agora os putos) foram determinantes na caminhada. Sei Miguel, apesar das esparsas aparições, fez o pocket-trumpet (com surdina) brilhar e introduziu novos elementos.
O papel das restantes cordas foi determinante: Guilherme Rodrigues, filho de Ernesto, mostrou-se sempre atento no violoncelo; Pedro Costa (violino) teve pormenores de interesse; Hernâni Faustino balançou no contrabaixo. A dupla de saxofones (Nuno Torres no alto, Rui Horta Santos no tenor) esteve discreta, mas ainda se fez notar nas partes crescentes. Tornava-se difícil identificar propriamente os sons provindos da secção electrónica (field recordings, gira-discos, electrónica, tape), mas o quarteto ia fornecendo ambientes inspirados. E a maior surpresa da noite terá sido a presença do didgeridoo.
Entrando pela emissão de sons inesperados e próximos do sussurro, a música foi crescendo progressivamente, culminando em momentos de grande intensidade de convulsão colectiva. Há uma semana atrás o histórico Telectu fez prova de vida, agora foi tempo da geração presente dar sinais de grande vitalidade na mesma Galeria Zé dos Bois. Num raro momento em que fervilham ideias e projectos na improvisação portuguesa, aguardam-se com curiosidade futuros desenvolvimentos relativamente a este large ensemble nacional, talvez a “nossa” mais imponente formação.
Nuno Catarino
(Bodyspace)

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