quarta-feira, 16 de junho de 2010
















Photo: Ernesto Rodrigues with Manuel Mota, Masahiko Okura and Taku Unami


“Lautari” designa, na terminologia dos ciganos da Roménia, “aquele que improvisa”, o músico ambulante que aprende escutando os mestres. É também a designação escolhida por este trio de Lisboa, que escolheu, entre todas as formas musicais disponíveis, aquela que, pelo menos em Portugal, se afigura como a de maiores dificuldades, tanto em termos de prática como de aceitação junto do grande público. Formado no ano de 1994, em Lisboa, o grupo encontra-se neste momento na fase de procura de plataformas de trabalho viáveis e que se coadunem com as respectivas personalidades, necessariamente diferentes e, por vezes, contraditórias entre si. Num campo de manobra cheio de minas e na mira de não poucos preconceitos auditivos, os Lautari conseguiram para já assegurar a sua subsistência como grupo, não abdicando das suas convicções a favor de um impacte mais imediato no consumidor médio. Escolheram a improvisação, “pelo risco” e “por uma necessidade de comunicação”, como acontece com José Oliveira, que afirma “não ter tempo, nem jeito, nem pachorra, para dizer alguma coisa enquanto na simples posição de intérprete”. José Oliveira, que, no passado, já tocou com o trompetista Sei Miguel e com Celso de Carvalho, faz suas as palavras do percussionista inglês Roger Turner, quando este diz que a música é “uma forma de guerrilha”, embora faça questão de frisar que, “já na música barroca, se incluía uma margem significativa de improvisação”. A audição de nomes como Evan Parker, Barry Guy, Paul Lytton, Paul Lovens, Derek Bailey, representantes da free music inglesa dos anos 60 e 70, mas também Archie Shepp, Ornette Coleman ou Eric Dolphy, foram determinantes na génese da estética perfilhada pelos Lautari. “A persistência em fazer este género de música”, diz Carlos Bechegas, que, entre outros, já tocou com Carlos Zíngaro e numa das derradeiras formações do Plexus, “deve-se a uma certa impaciência de alguns músicos para se relacionarem com as partituras”, a par da exigência de “uma criatividade específica”, que dá para conseguir “uma certa dinâmica de resultados, impossível de obter por outros meios”: “Se se faz uma improvisação que a seguir é escrita, mesmo se os “virtuosos” forem tocar aquilo – que são as mesmas notas -, não resulta da mesma maneira do ponto de vista dinâmico. Quando se improvisa, tem-se a sensação de encontrar uma coisa pela primeira vez”. Uma opção que acarreta uma enorme dose de responsabilidade e de entrega total à música, já que a espontaneidade absoluta e a sintonia perfeita entre os instrumentistas nem sempre acontecem quando se quer e nos locais programados. Ernesto Rodrigues fala nos ensaios como “ateliers de improvisação, ideais para desenvolver a linguagem colectiva e os métodos de execução instrumentais do grupo. Depois, no palco, o que é preciso é esquecer tudo isso e entregar-se por inteiro à inspiração do momento. Em nome de uma certa virgindade, como se cada nova apresentação fosse sempre uma primeira vez”. “O que define, entre outras coisas um bom improvisador”, conclui José Oliveira, “é a sua capacidade de reacção, em tempo real, no instante, e de forma adequada e criativa, aos estímulos que recebe de outrem. E isto é uma forma de composição, composição instantânea”. Fernando Magalhães

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