quarta-feira, 16 de junho de 2010


Uma característica em particular, e nesse aspecto diferenciadora das demais que vão surgindo nos mesmos territórios da criação musical, define as propostas de Ernesto Rodrigues: a combinatória dos princípios da improvisação, aplicados em toda a radicalidade das suas implicações, com o enquadramento de um conceito bem definido e articulado. À partida, estes dois âmbitos parecem excluir-se mutuamente, pois o conceptualismo artístico está nos antípodas da espontaneidade e da intuição da música improvisada, mas para o violista português reside precisamente nesse paradoxo o desafio que tem definido o seu percurso. Os títulos dos seus discos funcionam, regra geral, como grelhas de pensamento (alguns exemplos são “23 Exposures”, “Assemblage”, “Contre-Plongée” e “Kinetics”, remetendo-nos, inclusive, para o universo das artes visuais), e em algumas das edições as “liner notes” procuram mesmo circunscrever as coordenadas em que a música “acontece”. O jogo entre as duas dimensões adquire particularidades muito específicas, dado que não se trata de justificar teoricamente o que vamos ouvir, mas de lhe dar aquilo que Ernesto designa por “subjectividade referencial”. [...] Rui Eduardo Paes

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