quarta-feira, 16 de junho de 2010


Ernesto Rodrigues (violino, viola) dá largas ao seu fascínio pela complexidade da microscopia sonora, e por tudo o que está para lá do som convencional. Importa-lhe a redefinição, pela via da improvisação e da experimentação sonora, do papel dos instrumentos acústicos, do seu próprio conceito e daquilo que se conhece como resultante possível da execução instrumental.
Inomináveis possibilidades sonoras são-nos propostas para funcionar em diferentes planos e contextos, texturas granulares, atrito, afagamento de superfícies planas e rugosas, distensão, focagem próxima do objecto, eco, revisão, distância e refocagem – expressionismo, pontilhismo, nuance delicada, invenção da sua própria poética.
O resultado é uma música viva, intensa, pulsante e multipolar, com amplas dicotomias sonoras, nas quais o jogo harmónico explora os diferentes registos da instrumentação e da ressonância do espaço, passando de um som reduzido, quase imperceptível, para dimensões orquestrais de espectro sonoro completo.
A par do uso e extensão de um vocabulário multi-referencial, Ernesto Rodrigues utiliza todo o potencial acústico dos seus cordofones, cobrindo zonas escondidas, insuspeitas e improváveis, questionando-se a si próprio enquanto músico ao pôr em causa os fundamentos do paradigma anteriormente definido.
Eduardo Chagas

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