quarta-feira, 16 de junho de 2010


Ernesto Rodrigues Quinteto, programado para a tarde (19h00) de dia 12.07.2008, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no âmbito do festival Música Portuguesa Hoje. Com Ernesto Rodrigues, em viola, o libanês Stéphane Rives, em saxofone soprano, o galês Rhodri Davies, em harpa eléctrica e electrónica, Guilherme Rodrigues, violoncelo, e Carlos Santos, computador. Muito suavemente, do impulso inicial passou-se a uma cadência lenta, cordas eléctricas e acústicas, sopro e electrónica em murmúrio descontínuo, alternado com breves, muito ligeiras, altercações, a pôr em relevo o carácter rendilhado da peça única que compôs o set, sempre mais variado nos timbres que nas dinâmicas. A partir do primeiro quarto, a sessão evoluiu por sobre a camada electrónica de fundo, trama sobre a qual se foram dispondo os outros elementos sonoros de modo esparso, micro-eventos em que preponderaram os cordofones acústicos. A música do grupo, que tocou junto pela primeira vez, salvo três quintos (Rodrigues, Rodrigues e Santos) que há anos se desdobram nas mais variadas formas e contextos, mostrou-se tributária das formas de improvisação moderna que primam por fomentar menor actividade sonora, fazendo uso de elementos acústicos de maneira sóbria e elegante. Com uma ou outra hesitação e indecisão geral, e em particular de Davies e Rives, por opção própria mais ausentes que presentes na panorâmica, tempo houve para deixar cada som nascer e desenvolver-se no espaço, lentamente, procurando o momento e o local certeiro para provocar a imaginação e deixar fluir as emoções, como feixes de luz a tremeluzir no escuro. Música intrinsecamente tensa apesar da enganadora serenidade, cheia de momentos interessantes para quem aprecia a atonalidade, a dissonância e o convencionalismo próprio da improvisação livre, em parte graças ao intercâmbio gerado instantaneamente, noutra parte pelo facto de os músicos terem sabido ouvir-se entre si, sabedores de que neste tipo improvisação de câmara tão importante é a decisão de intervir como a de ficar de fora num determinado momento. Eduardo Chagas

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