quarta-feira, 16 de junho de 2010












Photo: Ernesto Rodrigues with Ensemble (Berlin)


A apresentação do mais recente título da discografia de Ernesto Rodrigues marcou o regresso às actuações ao vivo, após um breve interregno estival, de alguns dos mais activos músicos da “cena improvisada” de Lisboa.
Agendado para uma terça-feira de Setembro num espaço pouco habituado a acolher eventos deste tipo, a Galeria Armazém (Bairro Alto), o programa proposto consistia, numa primeira parte, na actuação dos três protagonistas do disco Drain (com Ernesto Rodrigues na viola, Mathieu Werchowski no violino e Guilherme Rodrigues no violoncelo), aos quais se juntariam, numa segunda parte, o contrabaixista Hernâni Faustino e o percussionista Monsieur Trinité.
O trio que deu início ao concerto cedo deu mostras do porquê da gravação de um disco em conjunto.
Desde o primeiro minuto que Werchowski e Ernesto demonstraram um entendimento notável, um magnetismo que foi devidamente secundado pelo outro Rodrigues, um violoncelista que, se inicialmente deixou transparecer um certo alheamento, preferiu manter-se afastado das mirabolantes geometrias que se teceram entre violino e viola, antes se concentrando na configuração de microscópicos apontamentos e delicadas estridências, assumindo-se assim como um inesperado instigador de novas situações e ideias musicais.
Na segunda parte, com as entradas de Hernâni Faustino e Monsieur Trinité, o panorama foi radicalmente diferente. Com efeito, o alargamento do espectro tímbrico e, em particular, a participação de um contrabaixista de raiz e inspiração essencialmente jazzísticas, permitiram o esboçar de um ténue edifício harmónico. Esta estrutura de fundações efémeras acabou por conferir uma maior previsibilidade à acção musical, que por ora se desenvolvia à luz de binómios de tensão/distensão e densidade/rarefacção. Uma nota no entanto para o apoteótico final deste set, com Ernesto e Werchowski, num derradeiro assomo de cumplicidade e intuição, a conduzirem o esforço colectivo para um belo e intenso clímax.
João Aleluia (Jazz.pt)

Sem comentários:

Enviar um comentário