quarta-feira, 16 de junho de 2010

















Photo: Ernesto Rodrigues with Christoff Schiller


As últimas edições da portuguesa Creative Sources testemunham que algo se está a passar no sector da criatividade sonora a que demasiado apressadamente (percebemos agora) se chamou "reducionismo". Já se discutia se esta frente da improvisação reduzia, de facto, os materiais da sua produção musical até às proximidades do silêncio, ou se, pelo contrário, o que se pretendia era somar algo ao zero. Pois o que nos oferece a maior parte destes discos - e creiam que a editora de Ernesto Rodrigues se tornou mesmo no barómetro das evoluções ocorridas nesta família - comprova que os tais "reducionistas" são cada vez mais "acrescentacionistas". Com uma tónica mais electroacústica do que alguma vez esperaríamos de um catálogo que parecia apostar nos novos improvisadores acústicos, é a toda uma mudança de parâmetros que assistimos. Se antes o trabalho das texturas era uma característica genérica, agora verifica-se já uma acentuação no labor tímbrico e no plano harmónico, o que, se aproxima mais estas práticas das correntes preocupações da música escrita contemporânea, liberta-as também do que parecia estar a converter-se numa cartilha. A recusa do fraseado e da nota convencional e o microtonalismo mantêm-se, mas o estado presente desta prática deixou de lembrar a "action painting" de Pollock para nos remeter às manchas pictóricas de Rothko, com a rarefacção dos sons a ser contrariada, muitas vezes, pela disposição de "drones" e até pela sobreposição de camadas de elementos, tão transparentes quanto aguarelas, decerto, mas valorizando a densidade. O próprio volume auditivo subiu, o que até era previsível face ao crescente desejo de evidenciar os mais pequenos pormenores do mundo microscópico em que esta música tem vivido, por meio de microfones de proximidade e de contacto no que aos instrumentos tradicionais diz respeito. […] Rui Eduardo Paes (Ananana Newsletter)

Sem comentários:

Enviar um comentário