Ernesto Rodrigues
Composer, Improviser, Violin, Viola
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
Este concerto é dedicado ao povo palestiniano
sexta-feira, 12 de maio de 2023
O silêncio invadido
Tenho a sensação que os velhos tempos de covid estão a ficar para trás. Pelo menos no que toca reabertura de concertos. Ainda bem. Todos: músicos e público, estávamos a precisar desta lufada sonora.
O palco desceu à plateia. E assim ficámos prontos para receber frente a frente a parede compacta de som que foi avançando como uma onda até ficarmos todos submersos.
Os intrumentos foram explorados até ao limite daquele momento. Os músicos fundiram-se nas memórias do espaço centenário, fundiram-se entre eles, e com o público.
O momento foi uno, cíclico. Completo. A perfeição da música encontra-se, às vezes, no respeito absoluto do espaço interno e da clareza da sua materialização que se vê reflectida nos rostos de quem ouve.
Não poderia ter sido um frente a frente mais franco. Aquela onda sonora continuou a invadir o meu silêncio pelo resto da noite.
Os responsáveis: Ernesto Rodrigues, Rodrigo Amado, João Almeida, Miguel Mira & João Valinho. Sofia Freire (Letra Crónica)
quinta-feira, 29 de setembro de 2022
Ernesto Rodrigues Quinteto
Violinista e violista de vanguarda, o mentor da Creative Sources Ernesto Rodrigues soma quatro décadas no universo do jazz e da improvisação livre. Desafiando as técnicas mais convencionais da composição, fez do experimentalismo o espaço acústico para nova matéria sonora, fundando em 1999 a incontornável Creative Sources Recordings, apostada na divulgação da música experimental e electro-acústica.
Apresenta-se no Aquário da ZDB em formato quinteto com Hernâni Faustino no contrabaixo, Pedro Sousa no saxofone, Rodrigo Pinheiro no piano e João Lencastre na percussão. (ZDB)
Ernesto Rodrigues, Alexandre Gigas e José Oliveira em sessão de música e poesia na Ler Devagar
photo: Ernesto Rodrigues, Guilherme Rodrigues & Harri Sjöström
DuoLogues é o evento que vai juntar Alexandre Gigas, Ernesto Rodrigues e José Oliveira na livraria Ler Devagar, em Lisboa, para um diálogo entre música e poesia no próximo dia 18 de Junho, a partir das 18 horas.
Alexandre Valinho Gigas é um poeta e performer de 45 anos que reside entre Coimbra e a Serra dos Candeeiros. Formado em Arqueologia, conta à data com seis livros publicados e vários textos espalhados pela imprensa nacional, integrando ainda projectos como TEKOHA e a Rádio Universidade de Coimbra, para a qual contribui com a rubrica 5 Minutos de Poesia.
A ajudar na harmonização das palavras vão estar os músicos Ernesto Rodrigues (na viola) e José Oliveira (na percussão), que começarão em duo e só depois, no final, darão espaço para as palavras de Gigas. O primeiro é já dono de uma longa discografia, tanto a solo como através dos vários grupos que ajudou a estabelecer — Fromage Digital, Variable Geometry Orchestra, Lisbon String Trio e Spiegel são apenas alguns deles — e estende a sua arte entre a música contemporânea e o free jazz, com uma orientação focada nos elementos sonoros e texturais. O segundo descreve-se enquanto um instrumentista autodidacta, frequentou estudos nas áreas de antropologia e etnomusicologia e conta com várias obras editadas, entre livros e discos, sendo ainda uma figura activa na área da performance-art e da mail-art desde os anos 80. ReB Team (Rimas e Batidas)
terça-feira, 28 de junho de 2022
Ernesto Rodrigues, Bertrand Gauguet e Ricardo Guerreiro no Liceo Mutante!
Ernesto Rodrigues (violín/viola) é un dos grandes nomes da improvisación electroacústica. A súa práctica privilexia o imprevisible a partir do encontro creativo con outros músicos nos máis diversos contextos. Ao longo dos deus 30 anos de carreira traballou con infnidade de músicos procedentesde todos os ámbitos, por exemplo: Rhodri Davies, Eugene Chadbourne, Mazen Kerbaj ou Arrington de Dionyso .
A relación cos seus instrumentas focalízase nos elementos sónicos e as texturas así como no emprego de técnicas extendidas. A música electrónica foi unha influencia temperá no seu achegamento ao violín, que cuestiona os conceptos románticos e tradicionais a través do uso de preparacións (no sentido de Cage) e microafinacións. Fundou e dirixe a Variable Geometry Orchestra dende o ano 2000. O seu extenso traballo está sobre todo documentado en Creative Sources, editora que inicou en 2001 e que é hoxe unha das máis relevantes do panorama internacional. (Liceo Mutante)
domingo, 6 de março de 2022
O voo do improviso
No dia 3 de março o Cosmos Campolide acolheu um quinteto que juntou Ernesto Rodrigues, Maria da Rocha, Bruno Parrinha, Luís Lopes e João Valinho. O grupo embarcou numa travessia assente na improvisação livre. Entrámos na viagem.
Após a pausa, há lugar ao renascimento, ao tempo da germinação. É o momento da observação, da descoberta, e são muito boas algumas das novidades que surgem no universo da música improvisada. Foi assim, na passada quinta-feira - uma noite de intensos sentidos, de partilha, de calor humano. Noite de música, de encontro de ouvidos e sons que se faziam forte e piano, intenso e fraco, longo e curto, num respeito mútuo que também se assumia rebelde.
Foi no Cosmos Campolide que Ernesto Rodrigues, viola de arco, se juntou a Maria da Rocha, violino, Bruno Parrinha, clarinete baixo, Luís Lopes, guitarra acústica, e João Valinho, percussão. Não poderia haver melhor local para este encontro. O Cosmos Campolide é um espaço cultural recente, que divide as instalações com o Campolide Atlético Clube, e começa agora a ser um ponto quase obrigatório para amantes da música improvisada e experimental.
Numa sala dotada de uma vibração muito sensorial, entre as suas paredes fomos transportados para um ambiente perdido algures, num tempo esquecido, do qual sobra agora o que se espalha pelo espaço - os bilhares descaídos, os tectos ornamentados de cor esbatida, as madeiras que insistem em ranger, o fumo suspenso, os candeeiros de luz quase sumida, as cadeiras de almofadas fundas.
O som era concentrado, ao mesmo tempo que fluía pelo silêncio do público atento da sala, combinando-se com os ruídos sonoros da mobília antiga, cuja madeira insistia em participar.
Com as vozes de fundo dos praticantes de boxe da sala ao lado, os músicos deram as primeiras notas, demonstrando de imediato convicção no seu som, originando uma transição gradual, espontânea, de vozes graves e agitadas para notas agudas da viola e do violino, de intensidade piano, ao que se juntou o som longo e grave do clarinete, o ponteado da guitarra e o movimento suave da percussão. Em poucos segundos o silêncio da concentração de quem queria escutar fez-se sentir – começámos a viagem.
Foi um concerto dividido em duas partes. Uma primeira mais minimalista, atenta ao pormenor, e uma segunda mais agitada, com momentos de clímax e muita energia. Foi notória a qualidade dos executantes - uma mistura entre a técnica instrumental, a sensibilidade para a escuta do outro, entrosando diálogos contínuos de respeito mútuo, em movimentos ora rápidos, ora lentos, de resposta cirúrgica, de ouvido clínico. De destacar, em todos os músicos, a atitude colocada em cada nota, a precisão na afinação, a exactidão das notas curtas, quase em forma de stacatto, o som limpo das notas longas, a sensibilidade da percussão para o tempo certeiro, nem mais nem menos. Houve momentos de diálogos quase silenciosos entre o violino e a viola, por vezes bruscos, outras vezes em rodopio, como se fosse uma mosca que segue o seu voo a ziguezaguear; um clarinete a suportar o som grave, ora em baixo contínuo, ora com pequenos desvios de caminho, intrometendo-se com os sons agudos. A guitarra foi desenhando ponteados, a ornamentar a imagem sonora. Toda esta dinâmica foi sustentada por uma percussão cuidadosa e sensível ao cenário envolvente.
Foram minutos de agradável surpresa e prazer, de equilíbrio e de constante comunicação. A empatia floresceu na sala, entre músicos e público. Sofia Rajado (Jazz.pt)
sábado, 5 de março de 2022
The Rodrigues Family still on the road! Four autumn releases!
photo by Luciana Fina
Kolejny sezon niekończącego się serialu kameralnych improwizacji w wykonaniu Rodziny Rodrigues czas zacząć! Zapraszamy na cztery najnowsze płyty Ernesto Rodriguesa i jego syna Guilherme, upublicznione minionej jesieni, zarówno w formie wygodnych płyt kompaktowych, jak i plików elektronicznych, dostępnych na bandcampowych stronach obu artystów.
Zestaw ów wydaje się nad wyraz ciekawy, albowiem altowiolinista i wiolonczelista doprosili do swoich nagrań sporą rzeszę muzyków, który parają się nie tylko swobodnie improwizowaną kameralistyką, ale także grywają niekiedy całkiem soczysty free jazz! W tym gronie znajdziemy zarówno męskich weteranów, jak i kobiece aspirantki, saksofonistów, kontrabasistów, pianistkę, wokalistkę, puzonistę, perkusjonalistę, a także tropiciela dźwięków terenowych. Jak na dość hermetyczny świat Panów Rodrigues, paleta propozycji dalece szeroka. Andrzej Nowak (Trybuna Muzyki Spontanicznej)
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
Distopia – concerto de improvisação
photo by Luciana Fina
Aclamado mundialmente e com 40 anos de carreira, Ernesto Rodrigues trará a sua mestria em improvisação e em música contemporânea mostrando num concerto único, a forma também ela única como se relaciona com os seus instrumentos explorando o aspetos mais texturais e sónicos dos mesmos, numa abordagem nova onde é inegável a forte influência da música electrónica.
Com colaborações com músicos do mundo inteiro e uma discografia extensa, Ernesto Rodrigues desafiou os impossíveis ao despir uma orquestra de partituras e mostrando as maravilhas que são possíveis ao subverter conceitos clássicos e académicos, recorrendo ao improviso e ao uso de micro tonalidades, criando uma experiência imersiva e quase provocatória de sentidos e sentir, onde a produção artística coletiva supera a individual, criando de todas as vezes, in loco um concerto único que nunca mais se repetirá. (A Voz do Algarve)
quinta-feira, 30 de setembro de 2021
Creative Sources Recordings: a arte de domar o indomável
terça-feira, 3 de agosto de 2021
Creative Sources Recordings
photo: Ernesto Rodrigues, Hui Chu Lin, Guilherme Rodrigues & Marie Takahashi
Tra le più produttive etichette discografiche dell’improvvisazione libera c’è sicuramente la Creative Sources di Ernesto Rodrigues. Oggi è un pò più semplice ascoltare la musica di Rodrigues e degli artisti che vi partecipano, grazie allo spirito di liberalità del portoghese e dei molti musicisti coinvolti: sia Rodrigues che i musicisti che incidono i cds su Creative Sources hanno raccolto (quasi tutti) la loro musica su una personale pagina bandcamp. Ho sondato una percentuale molto alta della produzione complessiva del 2020 della label portoghese e qui vi riporto un resoconto di alcuni lavori che mi sembra doveroso segnalare e che mi permettono di introdurre su queste pagine nuovi bravi artisti. Devo dire che l’etichetta di Ernesto mi sembra sempre più centrata sugli argomenti della libera improvvisazione, con una crescita delle produzioni di qualità. Ettore Garzia (Percorsi Musicali)
domingo, 1 de agosto de 2021
La scena jazz portoghese
La musica jazz ed improvvisata portoghese continua a stupire per il fervore musicale dei suoi principali centri e per la maturità raggiunta dai suoi musicisti. I nuovi factotum portoghesi sono le etichette discografiche: nel 2001 si fondano la Creative Sources Records di Ernesto Rodrigues (importante riferimento per l’improvvisazione libera) e la Clean Feed Records di Pedro Costa, etichetta di Lisbona attiva su più generi jazzistici: entrambe hanno fatto conoscere al pubblico una vera e propria pletora di artisti, ognuno con le sue specificità, dando vita ad un compendio completo del jazz di un secolo: partendo dalle ben note origini latine, i musicisti hanno percorso territori vicino al loro sentiment, abbracciando i generi storici del jazz (dal be-bop alla fusion, dal free alle avanguardie) e producendo nel contempo un loro status musicale. Certo, non sempre si tratta di prodotti particolarmente innovativi, va da sé che bisogna scavare nelle proposte, tuttavia nel complesso il risultato è molto positivo e spinge ad una costante attenzione sull’attività di questa scena. Ettore Garzia (Percorsi Musicali)
quarta-feira, 7 de abril de 2021
LE LISBON STRING TRIO LANCE LES INVITATIONS
Que le Portugal soit terre de musiques improvisées, c’est devenu une habitude. Que la scène lisboète ne soit pas avare de cordes de talents, de la guitare de Luis Lopes au violon de Carlos Zingaro, c’est un constat qui ne prend guère de temps pour être validé. Singulièrement grâce à l’insatiable travail d’Ernesto Rodrigues, acteur lusitanien incontournable de l’archet qui anime à l’alto depuis quelques années le Lisbon String Trio (LST).
Ses compagnons sont immuables : Miguel Mira au violoncelle et Alvaro Rosso à la contrebasse. Les compositions instantanées et collectives de l’orchestre s’inscrivent souvent dans une lecture très contemporaine - une expression que Rodrigues côtoie voire tutoie depuis des décennies.
Ernesto Rodrigues n’est pas le plus connu des musiciens de la péninsule ibérique, du moins dans l’Hexagone. Enregistreur infatigable, fondateur du label Creative Sources qui nous offre des pépites, il s’est saisi du format dématérialisé pour illustrer ses rencontres, tisser des liens et témoigner de manière régulière de ce qu’il faut considérer comme un constant work in progress. [...] Franpi Barriaux (citizen jazz)
terça-feira, 24 de novembro de 2020
FORÇAS GRAVITACIONAIS
photo by Nuno Martins
Em tempos particulares, especial foi a 14ª edição do Creative Fest, com três ensembles a actuarem no O’Culto da Ajuda em horários incomuns dos três últimos dias da semana que passou. A jazz.pt assistiu ao primeiro concerto, o de um String Theory que deve o seu nome tanto ao facto de incluir apenas instrumentos de cordas como ao entendimento que tem das forças gravitacionais descritas pela Teoria das Cordas.
Numa edição do Creative Fest marcada pela conjuntura pandémica que atravessamos, tanto em termos de conteúdo (três concertos apenas em três dias) como de horários (as duas primeiras actuações, a 19 e 20 de Novembro, foram marcadas para as 19h00, e a última, no sábado passado, aconteceu às 11h00), o curador do festival (e responsável da editora Creative Sources), Ernesto Rodrigues, escolheu três grandes formações do catálogo daquela discográfica, String Theory, Isotope Ensemble e IKB, de modo a reunir no O’culto da Ajuda o maior número possível de improvisadores da cena de Lisboa. A jazz.pt esteve presente na abertura, realizada com o agrupamento que tem por característica incluir apenas instrumentos de, ou com (caso do piano), cordas.
Daí o nome, String Theory, com referência à Teoria das Cordas, mas com algo mais a justificar tal escolha: se os objectos unidimensionais desta corrente da física são designados como “cordas” devido ao carácter vibracional que as leva a propagarem-se no espaço e a interagirem umas com as outras, ficou muito claro na prestação do ensemble – formado na ocasião por Ernesto Rodrigues, Maria do Mar, Yu Lin Humm, Miguel Ivo Cruz, Abdul Moimême, Miguel Mira, Carlos Santos, Flak, Luís Lopes, Pedro Bicho, Bernardo Álvares e Luísa Gonçalves –, que o mais importante factor deste campo de estudo científico, o da acção das forças gravitacionais, era o procedimento utilizado para todos os desenvolvimentos a que assistimos.
Com uma extrema contenção de volumes, o String Theory só não se aproximou do âmbito do chamado reducionismo porque eram profusos os pequenos elementos que se aglomeravam no ar, com muitas coisas a acontecerem em simultâneo, formando camadas sobre camadas. O principal centro gravitacional era, como habitualmente nas prestações do projecto, o próprio Ernesto Rodrigues, que introduzia as sequências definindo o rumo a seguir ou olhava para os lados a fim de os restantes instrumentistas se prepararem para uma mudança de direcção. À viola do discreto condutor iam-se associando timbres e contribuições, seguindo um percurso tão bem organizado que parecia, por vezes, composto ou de alguma maneira predeterminado.
Outros elementos de gravidade se proporcionaram durante a viagem: por exemplo, Maria do Mar ora desenvolvia no violino as linhas da viola, ora se relacionava com o violoncelo de Yu Lin Humm. Ao piano, Luísa Gonçalves optou, regra geral, por introduzir factores de contraste, o mesmo fazendo Miguel Ivo Cruz com a sua viola da gamba, no seu caso puxando a música para contextos mais convencionalmente camerísticos. Na circunstância substituindo os seus habituais “laptop” e sintetizador por uma cítara, Carlos Santos decidiu ter uma intervenção ainda mais liliputiana do que as dos demais, de tal modo que o que fazia com um “e-bow” e com preparações acabava por se distinguir. Inclusive, das “camas” abstractas criadas por Abdul Moimême, que submeteu a sua guitarra acústica às suaves agressões de címbalos e diversas aplicações metálicas.
Tudo isto exigia do público uma grande concentração auditiva, única forma de captar todos os detalhes, ainda que a mesma surgisse muito naturalmente. As atmosferas, que a estes ouvidos sugeriam calmas ondulações do mar ou de um campo de trigo, convidavam a um “deixar-se ir” prazenteiro e algo encantatório. No final, Rodrigues colocou o seu instrumento sobre o joelho, assinalando que o concerto (que durou um pouco mais de uma hora, sem interrupções) ia terminar, aguardando que as emissões sonoras do ensemble fossem gradualmente perdendo massa até se instalar o silêncio – para todos os efeitos a maior força gravitacional do mundo auditivo. Não foi uma viagem estratosférica, esta: foi, isso sim, uma viagem pelo interior de nós mesmos, comprovando que até uma orquestra pode ser introspectiva. A actuação foi gravada e irá ser editada em disco da Creative Sources num futuro próximo, para outros além dos presentes (a lotação máxima era de 25 pessoas) poderem ouvir o que se passou ali para os lados de Belém. Como afirmou o físico Brian Greene, «as coisas são como são no universo porque, se não fossem, não estaríamos cá para darmos conta delas». Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)
sexta-feira, 24 de abril de 2020
FALLING BEHIND ERNESTO RODRIGUES
photo: Ernesto Rodrigues & Carlos Bechegas
Catching up with Ernesto Rodrigues is a futile pursuit. I had been planning this post for a few weeks at the end of 2019. I aggregated a slew of albums, a non-methodically chosen most of his Creative Sources releases over the last few months of the year. And now, just a few weeks later, he has already outpaced me. Hence, despite my best efforts, I am still falling behind. Nick Ostrum (The Free Jazz Collective)
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
A CRIAÇÃO DO MUNDO
photo: Rodrigo Amado Motion Trio Large Ensemble by Bruno Ferrari
A CRIAÇÃO DO MUNDO
Foi com 24 concertos, nos mesmos sete dias da cristã criação do mundo, que se cumpriu a 13ª edição do festival promovido pela Creative Sources. Muito aconteceu pelos lados de Belém com a participação de várias dezenas de improvisadores portugueses e uma mão-cheia de convidados de outros países – a jazz.pt faz “zoom”, neste relato, sobre duas das sessões...
Foram sete dias seguidos de festival, de 18 a 24 de Novembro, com três ou quatro concertos por sessão no O’culto da Ajuda, em Lisboa, num total de 24. Com 13 anos de vida cumpridos em 2019, o Creative Sources Fest já há muito nos tinha habituado a tamanha oferta. Uma boa parte dos participantes – os habituais no catálogo da editora conduzida por Ernesto Rodrigues – surgiram várias vezes em palco, integrados em diferentes formações, mas ainda assim houve lugar para a imprevisibilidade e a surpresa.
Os Spiegel abriram as três noites iniciais com a aplicação de um conceito assaz interessante: na segunda actuação tocaram com, e sobre, a gravação da primeira, e na terceira sobre, e com, os registos das duas anteriores, jogando com as dicotomias entre o directo e o diferido, a improvisação “in loco” e a que criativamente se pode estabelecer com a memória auditiva documentada. Carlos “Zíngaro”, um veterano da música improvisada nacional (e internacional, será de acrescentar) que só se associou à marca Creative Sources quando, o ano passado, surgiu como convidado especial do Lisbon String Trio no álbum “Theia”, esteve presente em três importantes momentos – um em que tocou com Ernesto Rodrigues, Guilherme Rodrigues, Hernâni Faustino e o recentemente regressado às lides musicais José Oliveira, outro inserido no colectivo IKB (para o qual contribuiu também essoutro nome maior da música nacional que é Pedro Carneiro) e um terceiro com o Rodrigo Amado Motion Trio Large Ensemble. Encontrá-lo na mesma formação em que esteve Maria Reis, a vocalista e guitarrista das roqueiras Pega Monstro, não era propriamente expectável.
Façamos, para este relato do que aconteceu em Belém, um “zoom” sobre dois dos dias do cartaz, os de 22 e 23. A maratona arrancou com um quarteto de ocasião em que três músicos portugueses que antes já tínhamos encontrado juntos, Luís Vicente, Rodrigo Pinheiro e Hernâni Faustino, contracenaram com o baterista belga Tom Malmendier. Mais próximo do jazz do que a maior parte dos grupos alinhados para esta edição do festival, o quarteto pegou nos motivos da linguagem free e adequou-os a uma situação que prescindiu de qualquer tipo de amplificação (contrabaixo “unplugged” e ausência de microfones), com a bateria a trocar a habitual sustentação motórica por construções texturais de especial elegância. A música resultante tornou-se acentuadamente meditativa, se bem que decorrendo ao largo de quaisquer paisagismos. Instantes houve em que parecia estarmos a ouvir o Kenny Wheeler dos anos 1970, trompetista por quem, de resto, Vicente tem particular devoção.
Os minutos introdutórios da prestação que se seguiu, de Étienne Brunet com Carlos Santos e Carla Santana, pareciam dirigir-se para terrenos bem distintos, com o saxofonista francês a associar-se com um “laptop” aos sintetizadores e demais parafernália electrónica dos seus parceiros de circunstância. Quando Brunet pegou no sax soprano voltámos a ouvir os típicos fraseados do jazz, numa abordagem tonal que contrastava assumidamente com os crepitares ruidosos (Santos) e os “drones” de base (Santana) que o envolviam. Por detrás do trio passou um vídeo com imagens invertidas do mar e do céu, emaranhados de cabos eléctricos e um Étienne Brunet a tocar para elefantes, com o músico e os animais convertidos em manchas de cor. Foi curioso e interessante quanto baste.
O melhor veio depois com o projecto String Theory, uma piscadela de olho deste agrupamento exclusivamente de cordas (que incluiu um piano, mas sem uma única vez se terem utilizado as teclas) à chamada teoria das cordas, ramo da física que procura explicar o universo substituindo a noção de que a essência deste não está nas partículas em forma de ponto da vulgata desta ciência, mas nos objectos unidimensionais a que se dá o nome de cordas, devido à condição vibracional dos ditos. Pois o concerto lidou precisamente com o factor vibração, com os intervenientes (Ernesto Rodrigues, Maria do Mar, Ulrich Mitzlaff, Miguel Mira, Ricardo Jacinto, Abdul Moimême, Pedro Bicho, Hernâni Faustino, Sofia Queiroz e Mariana Carvalho) a subverterem as lógicas seculares dos ensembles camerísticos formados por cordofones sem nunca verdadeiramente saírem desse âmbito. O eixo do decateto esteve na combinação da viola de Rodrigues e do violino de do Mar, que conduzia todos os procedimentos, com a tríade de violoncelos e a dupla de contrabaixos a ampliarem os efeitos vibracionais causados por esse núcleo como se fossem as rugas causadas por uma pedra na superfície da água de um lago. Às duas guitarras e ao interior do piano coube o acrescento dos demais contributos sonoros, sempre com o propósito de dar a perceber que pontuar é, afinal, traçar uma linha.
A noite que se seguiu arrancou com um solo da italiana de origem coreana Yu Lin Humm, todo ele feito de delicadas filigranas, numa sonoridade mista de música clássica e folk. Ainda que de agradável audição, a curta peça era muito obviamente escrita e foi interpretada sem introdução de passagens improvisadas, ou assim pareceu, pelo que surgiu algo desenquadrada no âmbito em causa. Totalmente improvisada – e a cada passo beneficiando da experiência como improvisadores dos três músicos – foi a prestação de Ernesto Rodrigues e Rodrigo Pinheiro com o norte-americano Fred Lonberg-Holm que se sucedeu a esse simpático equívoco. Inebriante, misteriosa, alternando entre uma grande intensidade e mais serenos caudais, dir-se-ia que a música deste trio em estreia absoluta vinha de percursos comuns entre todos e até de repetidos ensaios, mas assim não se verificava. Nada tinha sido previamente estabelecido, e apesar disso aconteceu aquela imediata empatia musical que só a prática da improvisação permite, mas que raras vezes se proporciona.
Tocou depois o Trio PAN(a)Sónico de Maria do Mar com os espanhóis Juan Cato Calvi e Luis Erades, este sim, um grupo que tem tido um trabalho continuado no tempo. A violinista, o clarinetista e o saxofonista levaram para o O’culto uma partitura, com a performance a variar entre a sua estrita leitura e improvisações nela inspiradas ou dela derivadas, alturas havendo em que se tornou difícil distinguir o que estava notado e o que foi espontâneo. Harmónicos, dissonâncias, choques de frequências, multifónicos, microtons: deste tipo de materiais se fez a proposta, criando uma zona de reconciliação entre a sensualidade das formas e o cerebralismo dos processos. Mais uma vez do Mar revelou estar numa excelente fase do seu percurso e especialmente cativante foi o modo como Calvi usou a voz em uníssono com o clarinete baixo, como se fosse o Ian Anderson (flautista dos Jethro Tull) das madeiras.
“Zoom” desfeito e grande plano: pelo que se ouviu no Fest deste ano, a música improvisada está de óptima saúde no nosso país, e ainda capaz de nos oferecer coisas novas e diferentes. Valerá a pena acompanhar os próximos episódios desta cena sedimentada à volta da Creative Sources. O mundo está criado, resta-lhe que viva… Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)
quinta-feira, 16 de maio de 2019
Father, Son & Holy Ghost
photo: Davide Piersanti, Matthias Bauer, Matthias Müller & Ernesto Rodrigues
If Carlos Zingaro is the Father of the avantgarde, free jazz and free improvised string music in Portugal, Ernesto is the Holy Ghost, and his biological son, Guilhermo, is the Son, completing the Trinity. The true father and son play often together, but not always. They belong to world leaders of free improvisation with strings, no doubt about it. They are strongly connected to Creative Sources Recordings label, grounded by Ernesto. [...] Maciej Lewenstein
sábado, 9 de março de 2019
Ezz-thetics
SUSPENSÃO
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
Todd McComb's Jazz Thoughts
- It seems as though I'm always starting a discussion of new albums — and it's usually plural — from Ernesto Rodrigues with some sort of disclaimer. I guess that's both because he makes so many albums, and because I continue to especially enjoy many of them. Obviously there's nothing wrong with that, and so I guess the disclaimers come into play simply because I'm devoting so much time to his music, and also because on a "per album" basis, I'm being relatively neglectful. It's the latter that eats at me sometimes (& not only regarding Rodrigues), but there are only so many hours in the day, and the alternative is to say nothing, and so to feel as though good work is being ignored (which is also why I feel less of an urge to discuss albums that other people are discussing, although I do do that sometimes anyway). And then regarding the former, I haven't actually heard it, but I often imagine people thinking "Why is he always discussing the same musician?" Well, not always.... but Ernesto is creating a lot of music that I value, and in fact that often fits right into my priorities here in general. (And beyond that, he also releases a lot of great albums by other people too, often musicians who are unknown at the time, yet go on to more.... I can't even count the number of times I've "discovered" someone only to see that they already have a Creative Sources album. I don't know if Ernesto does all of his own talent scouting, but however that works, it's been very successful, and across a range of styles.) Moreover, although Ernesto plays with several of the same musicians over & over, he also engages much more widely, and that gives many of his albums very different characters. Even his personal discography has come to encompass hundreds of musicians, and involves a variety of styles & priorities. (One might even observe that simply assembling so many musicians into so many different groups, including of various sizes, is itself impressively musical within the basic mode of relation....) Todd McComb's Jazz Thoughts
terça-feira, 15 de janeiro de 2019
LISBON
photo: Guilherme Rodrigues, Udo schindler & Ernesto Rodrigues (München 2018)
Lisbon’s Hot Clube de Portugal, now more than 70 years old, is one of the world’s mythic jazz rooms. It’s an important stopping point for celebrated touring musicians, a vital space for Portuguese jazz artists and an anchoring center for jazz appreciation and education.
A school, Escola de Jazz Luís Villas-Boas, long has been part of the Hot Clube operation. “The Portuguese jazz scene is in fact surprisingly exciting,” said Inês Cunha, the club’s president since 2009. “There are now a few jazz schools, and a new generation of extraordinary musicians. But Portugal is a country in the ‘tail’ of Europe. It is harder for Portuguese musicians to play abroad. That is maybe why there are not that many Portuguese musicians known either in Europe or in the States.”
But the city’s a well-established hot spot for experimental jazz and free-improv, especially in August, thanks to Jazz em Agosto, a 35-yearold festival that has been run by Rui Neves— also a jazz broadcaster, critic and producer—for much of its history.
Regarding Lisbon’s jazz resources, Neves pointed to the improvisation-oriented Creative Sources label, run by violist Ernesto Rodriguez.
In Portugal, Neves said, “Jazz is learned at the university, and private schools are everywhere— but this is not making more creative musicians, only formatted musicians playing by the rules. However, there is in Lisbon a bunch of improvisers we can discover at the Creative Sources label who are getting some recognition.”
Additionally, the label Clean Feed, founded in Lisbon in 2001, is a prodigious supplier of recordings of improvisational and other
non-mainstream jazz albums. Josef Woodard (Down Beat)
domingo, 13 de janeiro de 2019
Ernesto Rodrigues Quinteto
Aglutinador de gentes talentosas em inúmeras e variadas formações num valoroso trajecto de anos e anos, o mentor da imparável Creative Sources apresenta nas Damas um novo quinteto assente nas cordas e na percussão. Ao chamamento do violino e da viola d'arco de Ernesto Rodrigues respondem o violoncelo de Miguel Mira, o contrabaixo de Hernâni Faustino, a guitarra de Luis Lopes e a percussão de Gabriel Ferrandini. Proposta pouco usual vinda de um músico com aptidão larga para o desafio representada por músicos bem reconhecidos nesta casa e nas lides das músicas mais indefiníveis - da improvisação livre à contemporânea, do jazz ao lower case. (Damas Bar)
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
Azkuna Zentroa. Bilbao.
photo: Ernesto Rodrigues, Nicolaus Neuser, Guilherme Rodrigues & Kriton Beyer
Ernesto Rodrigues, Carlos Santos y Abdul Moimeme son tres de las figuras más interesantes de la escena de la música experimental en Portugal, un país con mucha tradición de música de vanguardia. El trio combina música acústica (Ernesto Rodrigues), electrónica (Carlos Santos) y electroacústica (Abdul Moimeme), este último acompañado de una guitarra con presencia visual. Azkuna Zentroa. Bilbao.
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
« Zon » bizarre de zombie blanc
Photo (by Nuno Martins): Variable Geometry Orchestra