photo: Ernesto Rodrigues with Radu Malfatti and Ricardo Guerreiro
O segundo programa da noite, “Improvisação”, foi verdadeiramente inesperado. O trio, composto por Ernesto Rodrigues (viola), Radu Malfatti (trombone) e Ricardo Guerreiro (computador), executou uma improvisação baseada nos sons do silêncio. Num concerto em que a componente visual complementou e reforçou a componente auditiva – ambas extremamente estáticas, com os instrumentistas praticamente imóveis do início ao fim da improvisação, assim como a evolução extremamente lenta de qualquer gesto musical executado –, acabou por existir uma ausência de tempo linear dos acontecimentos. Deixou-se, a dada altura, de ter a referência do que teria sido o início, o meio ou até o fim, existindo por isso uma nova conceção de tempo, lento, parado em si mesmo, quase como um instante que se repete e varia.
Entre os sons da respiração, o som eólio do trombone, as intervenções minimalistas da eletrónica e os tremolos da viola em pppp e em registos extremamente agudos, criou-se uma atmosfera musical que se traduziu num diálogo “mudo” entre o ensemble, o espaço e o público, em que tudo – até o silêncio - se transformou na improvisação deste trio. Tiago Cabrita
Sem comentários:
Enviar um comentário